Vera Lúcia: 16 anos de dedicação e transformação social no IMESC

Com 16 anos de atuação como assistente social no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo (Imesc), Vera Lúcia construiu uma trajetória marcada por comprometimento, escuta qualificada e sensibilidade diante das múltiplas expressões da questão social que atravessam os atendimentos periciais.
Antes de ingressar no instituto, Vera atuava na área financeira, embora já fosse formada em Serviço Social. A transição para a profissão ocorreu por meio de concurso público, sendo aprovada em três instituições. A escolha pelo Inesc foi motivada pelo interesse no programa INFOdrogas, voltado ao estudo e enfrentamento do uso abusivo de substâncias psicoativas (tema que sempre despertou sua atenção).
Ao relembrar o início da sua trajetória no instituto, Vera destaca as mudanças que precisou liderar. “Quando eu assumi o cargo de assistente social no Imesc, 16 anos atrás, o Serviço Social estava ligado ao Centro de Estudos e atuava somente realizando pesquisas na área da Investigação de Paternidade. Com o aumento da demanda na área da Medicina Legal, houve a necessidade de implementação de um Serviço Social mais atuante no atendimento aos usuários do Instituto. Com isso, precisei criar protocolos de atendimento, ferramentas e instrumentais pertinentes à atuação do assistente social”, conta.
Desde então, Vera testemunhou e participou ativamente da transformação do setor dentro da instituição. A crescente demanda por perícias e a diversidade de perfis atendidos exigiram adaptações constantes. “O Imesc evoluiu de forma consistente. Hoje, além das perícias, temos um Centro de Estudos que contribui com formação e pesquisa”, destaca.
Na prática diária, Vera atua na complexa interface entre o sistema judiciário e o campo da saúde, atendendo pessoas em situações de vulnerabilidade que buscam esclarecimentos, apoio para questões práticas, como transporte, alimentação, acesso a benefícios e, muitas vezes, acolhimento emocional. “Em alguns períodos, a demanda chegava a 300 pessoas por dia. Muitos procuravam o Serviço Social com as mais diversas necessidades, que vão muito além da perícia”, afirma.
Apesar do volume expressivo, Vera reforça que cada atendimento é único. “Não é apenas mais um caso. É uma demanda individual que requer técnica, escuta e respeito às singularidades do periciado.”
Entre os inúmeros atendimentos realizados, alguns casos permanecem vivos na memória de Vera, como o de uma jovem com esquizofrenia que, durante um surto, evadiu-se da sala de identificação afirmando que tiraria a própria vida. “Conversei com ela, tentei acalmá-la. Após muito diálogo, consegui levá-la para uma sala reservada e o atendimento foi concluído com segurança. Foi uma situação muito delicada”, relembra.
Situações como essa exigem equilíbrio emocional. Vera afirma que é preciso separar o que está ao alcance da atuação profissional e manter a imparcialidade, oferecendo orientação de forma clara e promovendo a autonomia da pessoa atendida.

Na visão de Vera, o Imesc tem papel fundamental na sociedade ao ser o único instituto responsável por perícias nas áreas de medicina legal, psicologia, perícia social e genética, além de fomentar a formação e a pesquisa. Ela reforça a importância de fortalecer o setor de Serviço Social com a ampliação da equipe e a inclusão de mais estagiários, para atender de forma adequada à complexidade das demandas.
Para Vera, ter dedicado tantos anos ao Imesc representa a realização de um propósito. “Sempre quis exercer minha profissão. Aqui encontrei essa oportunidade, ampliei minha qualificação e hoje também atuo como perita social oficial do instituto.”
Aos novos profissionais que ingressam na área, especialmente em instituições públicas, ela deixa uma mensagem clara. “O Serviço Social olha para os invisíveis. Nosso papel é proporcionar ao usuário meios para superar a dor e o sofrimento. O mais importante é não desistir.”
O trabalho de Vera Lúcia é um exemplo de como o compromisso técnico e ético pode transformar realidades, mesmo diante dos desafios cotidianos. Sua trajetória no Imesc evidencia a importância do Serviço Social como elo essencial entre o direito e a dignidade humana.